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terça-feira, 1 de março de 2011

A Saga das Voyagers

Existe uma ligação de longa data entre a ficção científica e a ciência, que por muitas vezes acabam se cruzando. Devemos nos lembrar que muitas das tecnologias mais avançadas que existem hoje como carros, submarinos, foguetes, computadores, entre outras coisas foram previstas em romances de ficção cientifica do século XIX, como os de Julio Verne e H.G Wells. O que ontem era apenas sonho e especulação, hoje são fatos científicos ou pelo menos um prospecto para o amanhã. Em seus vôos da fantasia, os grandes mestres da ficção cientifica muitas vezes estimularam as novas gerações investirem em uma carreira cientifica e a realizar grandes proezas, como as realizadas por Werner Von Braun e Serguei Korolev, os cérebros por trás dos programas espaciais dos EUA e da Ex-URSS respectivamente.
Atualmente entre todas as franchises de ficção cientifica hollywoodianas,sem dúvida a que mais se associa com os programas da NASA é Star Trek. Como certa vez disse o produtor André Bormanis, que trabalhou nas duas últimas séries da franquia, Voyager e Enterprise, “Star Trek e o programa espacial norte americano se reforçam um ao outro na visão de um futuro de esperança e progresso, da exploração de novas fronteiras e na crença em que o bem pode triunfar sobre o mal.” Porém, infelizmente a maioria das (poucas) séries Sci-Fi “Space Opera” da atual safra carecem desta filosofia, apelando para um exagero de efeitos de computação gráfica como no caso da nova trilogia de Star Wars, ou então seguindo uma orientação Dark/Distópica em relação ao futuro, marcada por um tom derrotista, cínico, pragmático, tecnofóbico e belicista (refletindo a realidade nua e crua do nosso mundo atual, em guerra e estagnado economicamente), com as histórias voltadas para intrigas políticas e dramas de sobrevivência do mais forte, com personagens cheios de vícios, ódio e maus hábitos, e se utilizando de artifícios de sexo e violência para atrair o público, exemplificadas pelo Remake de Battlestar Galactica (produzida por Ron Moore, de Deep Space Nine), Farscape, Firefly, Babylon 5, Andrômeda (baseado num rascunho do Gene Roddemberry, começou bacana ,mas terminou um Hercules no espaço quando o Kevin Sorbo começou a dar pitaco) além dos Animes japoneses. Não é a toa que estas series não tiveram uma duração muito longa, nem criaram um fã-clube muito grande. Stargate SG1/Atlantis e Taken são raras exceções.
Ainda mais considerando que filmes de ficção cientifica, (exceto os Blockbusters de Super-Heróis que estão na moda, Épicos, alguns históricos, baseados em fatos reais como Gladiador, Alexandre e vários filmes com temática da Segunda Guerra mundial, ou fantasias Místico-Medievais, cheios de dragões, duendes, feiticeiros e cavaleiros, que tem um grande potencial entre o público infantil, com Crônicas de Nárnia, assim como os Desenhos Animados da Disney/Pixar) são muito caros (CGI, Maquetes,Figurinos,Cenários,etc...) e tem um público que embora fiel, é bastante restrito a uma pequena fatia do mercado (normalmente jovens do sexo masculino intelectualizados, os famosos Nerds), os chefões dos grandes estúdios de Cinema e TV em Hollywood, que acima de tudo querem $$$, principalmente para compensar a pirataria pela Internet, e o avanço de produções cinematográficas de fora dos EUA, como é o caso dos filmes de Kung-fu Made in China, alguns dramas políticos europeus e os bizarros filmes hindus de Bollywood que parecem zapping de canal, preferem produzir o que grande público está mais interessado, mesmo que seja lixo,como no caso dos Reality Shows, comédias teen acéfalas, filmes de terror, Enlatados Policiais, Campeonatos de Luta Livre e de Jogos de Baralho, Soap Operas (o equivalente americano das novelas brasileiras), pornôs e por aí vai... Além do mais esta Idiocracia é muito barata. Até os canais de documentários como Discovery e National Geographic já não são mais os mesmos.
Aqui no Brasil o gênero de ficção cientifica teve seus altos e baixos, de acordo com o Ibope que geravam aos canais. Acho que a maioria dos fãs lembra com saudade da Sessão Espacial na TV Manchete no período 90-91(bons tempos da infância), do Clássico Sábado SCI-FI do canal USA Network (Atual Universal Channel) e do tímido SciFox mais recentemente, que era meio picotado, as vezes dublado as vezes legendado, mas mesmo assim era legal com Taken,Arquivo X e Stargate Atlantis, mas pouco depois a rede preferiu entupir o horário com aquela baixaria de Simpsons e assemelhados .Até que veio o canal SCI-FI, mas foi uma decepção pois a maioria da programação é de filmes de terror, tem até um ridículo reality show sobre um grupo de Caça-Fantasmas (se eles pelo menos tivessem uma arma de feixe de prótons, rs ). Esta posição também resulta de um desinteresse da população em geral pela verdadeira ciência e tecnologia. A exploração espacial é considerada por muitos como uma simples relíquia da Guerra Fria, extremamente cara e de pouca utilidade prática, que deveria ser levada a cabo apenas por robôs.Além do mais exige projetos a longo prazo , cheios de riscos, conduzido por pessoas criativas e idealistas. Nesta era de “Mal-estar da pós-modernidade” as pessoas deixaram de sonhar com um novo e brilhante amanhã, preferindo se preocupar com coisas mais concretas e cotidianas, vivendo em um “Eterno Presente”, vivendo um dia depois do outro, seguindo a correnteza sem pensar, em uma mentalidade de colméia de abelhas, somente preocupadas com as finanças, fruto da obsessão neoliberal por “crescimento econômico” e “eficiência”, que deixariam o Quark e a Rainha Borg mortos de inveja. O maior invento do inicio do Século XXI é o Player de MP3, algo muito aquém das expectativas de cidades submarinas, colônias lunares, Carros elétricos, aviões de passageiros supersônicos (o Concorde foi aposentado em 2003) e é claro o robô doméstico. Recomendo a leitura de Fereidum Esfandiary e outros autores transhumanistas.
Conforme uma recente pesquisa realizada nos EUA 27% dos jovens entre 18-24 anos não acreditam que o homem esteve na lua em 1969. No Brasil não existe estatística, mas os números devem ser ainda maiores. Poucos são os garotos desta geração Pós-Apollo que associam Cinturão de Van Allen com radiações cósmicas e U-2 com Aviões Secretos (sei disso por experiência própia).

Todo este introdutório é para contar uma história de quando a realidade encontra a ficção, exemplificada quando a Voyager da vida real encontra a Voyager da Ficção. Quando se fala em Star Trek e em sua relação com as missões espaciais reais da NASA a maioria dos fãns lembra quando em 1976 a NASA batizou o protótipo do Space Shuttle utilizado nos testes de vôo atmosférico como Enterprise, em homenagem a lendária nave do Capitão Kirk. Mas em 1994 foi a vez da Paramount Pictures homenagear as Sondas Voyager 1 e Voyager 2 da NASA, que exploraram os confins de nosso Sistema Solar a Paramount Pictures retribuiu, nomeando a Nave da Capitão Janeway U.S.S Voyager.
As duas sondas Voyager que no ano passado completaram 30 anos no espaço, e continuam a transmitir dados científicos para a Terra,enquanto se aproximam dos limites do Sistema Solar, após o glorioso “Grand Tour” pelos quatro gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) . Como estas sondas iriam sair do Sistema Solar, a NASA designou os astrônomos Carl Sagan (autor dos best Sellers “Cosmos” e “Pálido Ponto Azul” e Frank Drake (idealizador do Projeto SETI, que busca por vida inteligente no universo através de sinais de rádio) para produzirem uma mensagem que representaria a humanidade como um todo, em um LP banhado a ouro, destinada a alguma inteligência alienígena que possivelmente interceptar alguma das duas sondas. Embora a probabilidade que isto realmente ocorra seja astronomicamente baixa, ela tornou-se um importante ícone cultural do século XX, uma versão cósmica da mensagem na garrafa dos náufragos.
A Trama do primeiro longa-metragem da franquia (Star Trek-The Motion Picture) explora a idéia do que ocorreria se uma raça alienígena encontrasse a Terra por meio do disco dourado da “V’Ger”).
Ed Stone, cientista-chefe do projeto Voyager e ex-diretor da JPL, explica que mesmo que a mensagem não seja encontrada, a gravação tem um importante significado para nós mesmos.
“De certa forma , é uma mensagem unificadora. É uma mensagem da Terra. Contém saudações em vários idiomas, musicas de várias culturas e épocas, e imagens que retratam o nosso planeta natal. É a nossa tentativa de dizer o quê é a Terra e o quê achamos que nós somos.”
Conforme Ann Druyan, diretora artística do projeto e posteriormente esposa de Carl Sagan a combinação entre ciência e arte foi uma razão especialmente motivadora para dedicar-se com tanta energia ao projeto da mensagem.
“ A mensagem representa a idéia que a ciência e a tecnologia podem ser unidas a arte. Esta uma das poucas historias totalmente grandiosas que temos sobre a humanidade. Custou virtualmente nada aos contribuintes e ninguém teve que morrer. Era uma forma de celebrar a gloria de estarmos vivos no ano de 1977. Foi o mais romântico e belo projeto realizado pela NASA. Tem o som de uma mãe beijando o filho recém-nascido, toda aquela música maravilhosa, de cânticos tribais ao Rock n´roll. Lembrem-se que isso foi na época da Guerra Fria, todos sabiam que 50.000 bombas atômicas poderiam destruir tudo a qualquer hora, e havia muita angustia em relação ao futuro. Isto era algo positivo, uma maneira de representar a Terra em seu melhor. Isto era irresistível.”O enteado de Ann Druyan e filho de Carl Sagan, Nick, tinha na época seis anos de idade. A mensagem possui uma gravação da sua voz dizendo “Hello from children of Planet Earth.” ( Saudações das crianças do planeta Terra). “Eu não percebia a magnitude daquilo na época. Literalmente meus pais colocaram um microfone na minha frente e disseram: O quê você diria aos extraterrestres.”
Sagan diz que só começou a perceber o que significava aquilo na adolescência com uma “Estranha porém maravilhosa honra.” “ Tem sido um desafio para o resto da minha vida viver carregando esta honra. Ela está sempre em meu subconsciente. Meu pai inspirou tantas pessoas a fazer muitas coisas maravilhosas como não julgar as coisas pela aparência e analisar as evidencias para buscar a verdade. Isto é algo que considero como um farol.”
Sagan comenta que ele e seu pai discutiam as descobertas das Voyagers no contexto da busca por vida extraterrestre. Eles ficaram animados quando as espaçonaves fotografaram Titã e Europa, mas Nick percebeu uma mudança em seu pai nos anos seguintes.
“Uma das coisas que surpreendeu ele foi o fato de que nós não encontraríamos vida extraterrestre durante sua vida. Então ele percebeu que se não houver outras formas de vida lá fora ou se a vida for tão rara, nós precisamos se proteger eu vi uma mudança nele, ele começou a tornar-se mais ativo social e politicamente, especialmente em questões como Aquecimento Global e Armas Nucleares.”
O filho de Carl Sagan acredita que a Voyager e outras missões espaciais são importantes mais por causa de seu processo do que pelas suas descobertas.” A questão é: O quê isto tudo significa? Se nós encontrarmos a vida no universo isso vai nos mudar, mas se não encontrarmos também vai nos mudar. O ato de estarmos procurando vai nos contar muito e aprenderemos tanto sobre nós mesmos.”
Nick Sagan seguiu parcialmente a carreira de seu pai, tornando-se escritor de ficção cientifica. Seus principais trabalhos foram como roteirista dos episódios “In the Flesh”, “Gravity”, “Course:Oblivion”, “Juggernaut” e “Relativity” na Série Star Trek Voyager. Ele é um elo vivo entre a ciência e a arte, entre a Ficção científica e os fatos científicos, entre Star Trek e a NASA e entre as Sagas das Sondas Voyager e da U.S.S Voyager.

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